PARTE 40 – TERTULIANO
A BÍBLIA E SUAS ESCOLAS RELIGIOSAS E FILOSÓFICAS.
Tertuliano
foi uma das personalidades mais originais e notáveis da igreja primitiva. Nascido de família pagã abastada (mais ou menos em 150-155), em Cartago, estudou Direito e exerceu a profissão em Roma. Possuía grande erudição
em filosofia e história. Dominava a língua grega. Entre 190 e 195, converteu-se ao cristianismo, provavelmente em Roma, e passou a dedicar-se, com igual devoção, ao estudo da literatura cristã, tanto ortodoxa quanto herética.
Logo depois, voltou a Cartago, onde foi ordenado presbítero e ai viveu até sua morte (cerca de 222-225). A princípio vinculado à Igreja de Roma, uma onda de perseguições movidas pelo Imperador Sétimo Severo
(193-211), no Norte da África, em 202, reacendeu o puritanismo. O que mais chamava a sua atenção nesse movimento eram os seus aspectos ascéticos e anti-mundanos. Por volta de 200, rompeu com a Igreja Católica e passou a criticá-la
acerbamente, em reiterado protesto. Antes de morrer, ao que parece, fundou uma pequena seita própria.
Em 197, Tertuliano encetou uma carreira
literária de devesa e explicação do cristianismo, carreira essa que se estendeu até 220. Foi o primeiro escritor eclesiástico importante em língua latina. Mesmo os dirigentes a Igreja Romana escreviam em grego, até
depois dessa época. Seu estilo era vívido, satírico, fácil de ler. Seu método assemelhava-se, não raro, ao de um advogado no tribunal. Era frequentemente injusto para com seus oponentes e incoerente consigo mesmo.
O intenso fervor espirital que demonstrava tornava sempre admirável o que escrevia. Bem merece o título de pai da teologia latina.
Tertuliano
estava longe de ser um teólogo especulativo. Seu pensamento baseava-se no dos apologista, no de Irineu e, até certo ponto, no de outros guardiães da tradição da Ásia Menor, tanto quanto em idéias estoicas e
conceitos jurídicos. Tinha o sentido de ordem e autoridade típico dos romanos. Todos os assuntos de que tratava eram formulados com a clareza de definição peculiar à mente jurídica. Disso decorre o fato de ter ele,
mais do que qualquer outro escritor anterior, emprestado precisão a muitos conceitos teológicos até então vagamente compreendidos.
Israel Sarlo
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